No século XX, existiam três drogarias no centro da vila de Palmela: Drogaria Paula, Drogaria «da Veva» - de Carlos Joaquim de Sousa - e a Drogaria Central, também conhecida por «do Amílcar». Estes estabelecimentos eram fundamentais na vida das comunidades. O interior destes espaços era avassalador. Ao entrar, impunha-se uma adaptação momentânea do olhar à panóplia expositiva. Prateleiras, paredes, chão e teto estavam revestidos dos mais variados artigos, numa desorganização apenas aparente. Os remédios conviviam com candeeiros, televisões, produtos de limpeza, ferragens, conjuntos de louças para a casa, utensílios domésticos. Tinham um cheiro peculiar, as drogarias, e era possível encontrar quase tudo nestas lojas.
Os proprietários e funcionários destas casas possuíam um vasto conhecimento que lhes permitia, até, manipular e administrar medicamentos.
Uma das drogarias mais importantes da vila, até pela sua posição geográfica já que se situava nas imediações do mercado municipal, era a Drogaria Paula.
Gabriel da Costa Paulo (1927-2004) foi aluno da mestra telegrafista, tendo completando a 4ª classe do ensino primário. Passou depois a acompanhar o pai na venda, no mercado do Livramento, em Setúbal. Às 6 horas da manhã, descia a estrada da cobra, a pé. No regresso, por vezes, tinha a sorte de vir à boleia na bicicleta de outros vendedores como ele. Trabalhou depois numa oficina de carroças, em Quinta do Anjo. Um surto de febre tifóide fê-lo abandonar a profissão. Começou, então, a trabalhar na Taberna do Mitra tendo, anos mais tarde, adquirido o espaço. Era uma importante taberna de Palmela onde se realizava, aos sábados, a «praça dos homens».
Mais tarde, adquiriu um armazém na Rua Mouzinho de Albuquerque, n.º 80, onde instalou a drogaria. Durante cerca de meio século, acompanhou a evolução da vila; as portas fecharam-se, definitivamente, em 2005. Todos os produtos eram comprados a fornecedores que se deslocavam à drogaria, exceto as loiças que eram adquiridas no armazém «Braz & Braz», em Lisboa. A deslocação à capital era feita em cima de uma motocicleta. No regresso, Gabriel prendia, por meio de cordas, os serviços de louça às costas, na certeza de que chegariam inteiros a Palmela.
Estamos a referir-nos a uma época em que a drogaria estava ladeada por uma barbearia, uma carvoaria e armazém de carvão, tabernas, casa de roupas, charcutarias, mercearias e talhos.
Atualmente, a Drogaria Central é a única resistente que testemunha esse outro tempo. Situada na Rua Hermenegildo Capelo, nº 155, cabe a Fernando Ramos a exigente tarefa de garantir que assim se manterá, por mais anos.
Investigação Inventário e Conceção: Teresa Sampaio, 2016
Esta exposição contou com o apoio da Drogaria Central, de Fernando Ramos, e esteve patente no Espaço Cidadão, de outubro de 2016 a setembro de 2017.